Estudo da Holanda revela que maior pico de felicidade nas viagens acontece antes mesmo de embarcar — veja como a neurociência explica esse fenômeno
Imagine sentir-se mais feliz antes de viajar do que durante a própria viagem. Parece contraditório? Pois essa é a conclusão de um estudo conduzido na Holanda, publicado na revista científica Applied Research in Quality of Life. Segundo a pesquisa, o maior pico de felicidade acontece durante o planejamento da viagem — e não na experiência em si ou após o retorno.
A investigação, liderada por Jeroen Nawijn, contou com a participação de 1.530 adultos, dos quais 974 haviam programado uma viagem e 556 não. Os pesquisadores mediram os níveis de bem-estar desses indivíduos antes, durante e depois das férias. O resultado foi claro: a maior elevação da felicidade ocorre no momento da antecipação.
Mas o que explica essa sensação intensa antes mesmo de fazer as malas? A neurociência tem uma resposta técnica e cada vez mais estudada.
Como o cérebro responde ao planejamento de viagens?
Segundo pesquisadores da neurociência comportamental, esse aumento de bem-estar está associado à ativação do sistema dopaminérgico, responsável por processar recompensas, prazer, motivação e expectativa positiva.
Durante o planejamento de uma viagem — ao pesquisar destinos, reservar hospedagens, montar roteiros e visualizar cenários — o cérebro humano ativa o circuito de antecipação de recompensa, que envolve:
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Área tegmental ventral (VTA)
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Núcleo accumbens
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Córtex pré-frontal
Esse circuito é o principal responsável pela liberação de dopamina, um neurotransmissor que gera sensações de prazer e excitação. Em termos simples: imaginar algo prazeroso ativa quase as mesmas áreas cerebrais que vivê-lo de fato.
Segundo o estudo, mesmo após a viagem, os níveis de felicidade voltam rapidamente ao estado basal — exceto em casos de férias extremamente relaxantes. Isso reforça que a expectativa controlada e positiva pode ser mais duradoura que a própria experiência vivida.
Quando e por que esse dado é relevante?
O estudo foi realizado em 2009 e publicado em 2010, mas tem ganhado nova relevância após a pandemia da COVID‑19, quando o planejamento de viagens ressurgiu como uma fonte de bem-estar mental, especialmente entre pessoas que trabalham remotamente ou enfrentam rotinas urbanas exaustivas.
O que a ciência recomenda?
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Planeje com antecedência. Isso aumenta o tempo de exposição ao circuito de recompensa.
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Visualize sua viagem. A prática da imaginação ativa estimula os mesmos sistemas dopaminérgicos de um prazer concreto.
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Prefira múltiplas viagens curtas. Isso prolonga a frequência de picos de dopamina ao longo do ano.
O que isso muda na forma de viajar?
Para os viajantes, entender essa lógica neurobiológica significa que viajar começa na mente — e não no aeroporto.
Para o setor turístico, significa que a experiência do usuário começa no momento em que ele começa a sonhar.
Empresas, destinos e plataformas de viagem devem investir na etapa de pré-experiência: vídeos inspiracionais, roteiros interativos, conteúdo personalizado e sistemas de “contagem regressiva” criam engajamento emocional e podem elevar a satisfação do cliente antes mesmo do embarque.
Conclusão
O estudo holandês não apenas revela um dado curioso — ele oferece um insight valioso sobre a relação entre cérebro, comportamento e bem-estar. Entender que a felicidade das viagens começa na expectativa e é alimentada pela dopamina pode transformar o modo como planejamos e valorizamos nossas jornadas.